28 abril 2009

*E O TRABALHO COMEÇA A GERAR BONS FRUTOS.

É isso mesmo! Graças ao levantamento sobre portadores de câncer que realizei em Bicas, bons frutos já começam a ser colhidos. Tanta informação e trabalho não poderiam simplesmente ficar guardado. Era necessário apresentar os resultados a pessoas e instituições que fizessem uma leitura mais apurada. Profissionais que pudessem oferecer alternativas materiais, técnicas e humanas, dando-nos condições de desenvolver trabalhos de prevenção e de detecção precoce da doença. Buscando exatamente encontrar tudo isso, iniciei minha caminhada visitando o INCA – Instituto Nacional do Câncer, no Rio de Janeiro, onde apresentei meu trabalho ao Dr. Cláudio Pompeiano Noronha, Coordenador de Prevenção e Vigilância do Câncer e este ficou realmente surpreso com a dimensão de todo o levantamento apresentado, ressaltando a importância da realização de trabalhos como este em pequenos municípios. Recomendou que também apresentasse meu trabalho à Dra. Berenice Navarro Antoniazzi, Epdemiologista e Coordenadora do Programa de Avaliação e Vigilância do Câncer e seus Fatores de Risco, da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Após contatos iniciais, marcamos uma reunião em Belo Horizonte, onde em companhia da Secretária Municipal de Saúde de Bicas, Sra. Terezinha Lanini, estivemos no último dia 27 de abril. Este encontro nos propiciou a oportunidade de apresentar o trabalho a profissionais altamente qualificados na área de estatísticas e extremamente envolvidos com a vigilância do câncer em nosso Estado. Lá, nos reunimos com Dra. Berenice, que disponibilizou dois profissionais na área de estatística, Renato Azeredo Teixeira e Thays Aparecida Leão, ambos Estatísticos do Programa de Avaliação e Vigilância do Câncer em Minas que, numa leitura mais técnica, mostrou-nos de forma clara, a dimensão dos números apresentados pelo levantamento de Bicas. Apesar de não ser um profissional da área da saúde, este trabalho vem me propiciando grandes experiências. Foi realmente gratificante conversar com pessoas tão capacitadas e envolvidas com a prevenção do câncer. Graças a este encontro, conseguimos também uma grande quantidade de materiais para capacitação de nossos agentes de saúde, que assim poderão realizar campanhas e prestar informações básicas para a suspeita e detecção precoce do câncer e seus fatores de risco. Todo o material será apresentado aos agentes de saúde na semana do enfermeiro, quando além de apresentarmos os resultados do levantamento sobre portadores de câncer em Bicas, acontecerão capacitações para os profissionais lotados nos PSF’s, para que possam realizar uma grande e profícua campanha junto aos biquenses. A expectativa é que a população de risco seja mais bem informada e, com isso, realize em tempo oportuno os exames preventivos. A detecção precoce do câncer possibilitará a cura ou o controle da doença.

09 abril 2009

*LEVANTAMENTO SOBRE PORTADORES DE CÂNCER EM BICAS.

Passo a apresentar um resumo do Levantamento sobre Portadores de Câncer que realizei em Bicas em parceria com a Secretaria de Saúde, através dos postos do PSF - Programa de Saúde da Família.
Quero ressaltar que não se trata de uma pesquisa baseada em informações técnicas como laudos laboratoriais de diagnóstico e do tipo específico de câncer, mas sim de um "Levantamento sobre Portadores de Câncer Segundo Informação de Morbidade Referida aos Agentes Comunitários de Saúde", entre 01 de janeiro de 2005 a 18 de março de 2009, levantando as informações prestadas pelos moradores aos agentes de saúde residentes nos domicílios localizados nas áreas com cobertura dos PSF’s. Foram estes os dados levantados para chegarmos aos números aqui apresentados.
Foram distribuídas planilhas individuais para cada ano a cada agente de saúde dos cinco postos existentes em Bicas, levantando o número de casos novos da doença em cada ano, especificando tipo de câncer, sexo, fumante, alcoolista, em tratamento e óbito. Todas as informações que alimentaram este levantamento foram colhidas entre 6 de fevereiro de 2009 e 18 de março de 2009.O resultado completo com planilhas, gráficos e cruzamento de informações serão apresentados em evento a ser realizado na segunda semana de maio - Semana da Saúde - com palestras e debates sobre o tema.
Para dar início a este trabalho, era necessária uma referência confiável de informações sobre o câncer no Brasil, que encontrei na publicação “Estimativa 2008: Incidência de Câncer no Brasil” do INCA – Instituto Nacional do Câncer e uma fonte de informações mais próxima possível da realidade sobre a incidência da doença em Bicas, levantadas nos registros dos cinco postos do "PSF – Programa de Saúde da Família" que cobrem todos os bairros e ruas de nossa cidade e a zona rural.
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A população de Bicas utilizada como denominador para o cálculo das taxas apresentadas na presente publicação foi a censitária de 2007, obtida na seção municipal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, desagregada por sexo: 6.570 homens e 7.060 mulheres. Para chegar ao número de registro de casos novos de câncer em Bicas de 2005 a 2009, foram usados como parâmetro, os números estimados de casos para o Estado de Minas Gerais da estimativa INCA 2008 que são: 190 novos casos para 100.000 homens; ou seja, 1,9 casos por 1.000. 170 novos casos para 100.000 mulheres; ou seja, 1,7 casos por 1.000. .
Teremos assim: 12,48 novos casos por 6.570 biquenses homens; 12,00 novos casos por 7.060 biquenses mulheres.
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De posse desses dados, fiz um levantamento dos casos novos de câncer por sexo em Bicas nos anos de 2005, 2006, 2007, 2008 e nos três primeiros meses de 2009, comparando estes números ano a ano com os números previstos pelo INCA para 2008. Desta forma, podemos avaliar a evolução da doença em Bicas. Vejamos esta evolução em número de casos novos:
Previsão INCA para 2008 em Bicas:
12,48 em homens - 1,9/1.000.
12,00 em mulheres - 1,7/1.000.
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N° de casos novos em Bicas 2005:
14 em homens - +8% - 2,13/1.000.
10 em mulheres - -15% - 1,41/1.000.
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N° de casos novos em Bicas 2006:
13 em homens - igual INCA - 1,97/1.000.
16 em mulheres - +34% - 2,26/1.000.
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N° de casos novos em Bicas 2007:
16 em homens - +23% - 2,43/1.000.
19 em mulheres - +59% - 2,69/1.000.
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N° de casos novos em Bicas 2008:
24 em homens - +85% - 3,65/1.000.
26 em mulheres - +117% - 3,68/1.000.
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N° de casos novos em Bicas 2009 em apenas três meses:
10 em homens - projeção ano - 6,08/1.000.
11 em mulheres - projeção em mulheres - 6,23/1.000.
Todos os tipos de câncer que constam na pesquisa foram os registrados nos postos do PSF de Bicas de janeiro de 2005 a março de 2009. É necessário destacar que muitos pacientes e seus familiares, normalmente aqueles com condições financeiras que lhes permitem a não dependência dos serviços do SUS e também por outros motivos que são do conhecimento de todos, optam pelo anonimato, omitindo dos agentes de saúde e da própria Secretaria de Municipal de Saúde a existência da doença, fato naturalmente compreensível. Sabemos que são muitos, sem, contudo, podermos precisar, mas tal fato torna ainda mais preocupante a situação dos números em Bicas. “Sem dúvida, os números são maiores”.
Apresento a seguir, os números da incidência de câncer entre os anos de 2005 a março de 2009. Total de casos no período 2005/2009: 160 – 100% 2005 em todo o ano, 24 casos – 15%; 2006 em todo o ano, 30 casos – 18,75%; 2007 em todo o ano, 35 casos – 21,87%; 2008 em todo o ano, 50 casos – 31,25%; e 2009 em apenas dois meses e meio, 21 casos – 13,12%. Passo agora a a uma classificação pelo número de ocorrências em Bicas classificados também em 20 tipos distintos, contabilizados no período citado, destacando o número de casos em 2008 e 2009: 1- O câncer de próstata aparece em primeiro lugar no índice de casos novos em Bicas, com números bem acima da previsão nacional e estadual. De 2005 a 2009= 28 casos; em 2008= 9 casos e em 2009= 4 casos.
2 – O câncer de mama aparece em segundo lugar no índice de casos novos em Bicas, com números bem acima da previsão nacional e estadual. De 2005 a 2009= 27 casos; em 2008= 8 casos e em 2009= 4 casos.
3 – O câncer de garganta/laringe/faringe aparece em terceiro lugar no índice de casos novos em Bicas, com números muito acima da previsão nacional e estadual. De 2005 a 2009= 18 casos; em 2008= 5 casos e em 2009= 3 casos. 4 – O câncer de colo do útero aparece em quarto lugar no índice de casos novos em Bicas, com números bem acima da previsão nacional e estadual. De 2005 a 2009= 10 casos; em 2008= 2 casos e em 2009= 1 caso.
5 – O câncer de cólon e reto também aparece em 4° lugar no índice de casos novos em Bicas, com números muito acima da previsão nacional e estadual.
De 2005 a 2009= 10 casos; em 2008= 6 casos e em 2009= nenhum caso registrado.
6 – O câncer de intestino aparece em quinto lugar no índice de casos novos em Bicas, com números muito acima da previsão nacional e estadual. De 2005 a 2009= 8 casos; em 2008= 3 casos e em 2009= 2 casos. 7 – O câncer de estômago também aparece em quinto lugar no índice de casos novos em Bicas, com números abaixo da previsão nacional e estadual. De 2005 a 2009= 8 casos; em 2008= nenhum caso registrado e em 2009= 1 caso.
8 – O câncer de pele aparece em sexto lugar no índice de casos novos em Bicas, com números abaixo da previsão nacional e estadual. De 2005 a 2009= 7 casos, sendo 1 melanoma (o mais grave); em 2008= 2 casos e em 2009= 2 casos.
9 – O câncer no cérebro/cabeça aparece em sétimo lugar no índice de casos novos em Bicas, com números acima da previsão nacional e estadual. De 2005 a 2009= 6 casos; em 2008= 3 casos e em 2009= nenhum caso registrado. 10 – O câncer no pâncreas aparece em oitavo lugar no índice de casos novos em Bicas, com números acima da previsão nacional e estadual. De 2005 a 2009= 5 casos; em 2008= 1 caso e em 2009= 1 caso. 11 – O câncer de pulmão aparece em nono lugar no índice de casos novos em Bicas, com números dentro da previsão nacional e estadual. De 2005 a 2009= 4 casos; em 2008= 2 casos e me 2009= nenhum caso registrado. 12 – O câncer de fígado aparece em nono lugar no índice de casos novos em Bicas, De 2005 a 2009= 4 casos; não ocorrendo caso novo em 2008 e em 2009. 13 – O câncer de boca aparece em décimo lugar no índice de casos novos em Bicas, De 2005 a 2009= 3 casos; em 2008= 2 casos e em 2009= nenhum caso registrado.
14 – Os tipos de câncer de perna/calcanhar e de baço aparecem em décimo primeiro lugar no índice de casos novos em Bicas, De 2005 a 2009= 2 casos cada; em 2008= 1 caso cada e em 2009= nenhum caso registrado. 15 – Os tipos de câncer na vesícula, nos testículos, nos ossos/leucemia e na pleura aparecem em décimo segundo lugar com um caso cada de 2005 a 2009. 16 – O número de casos novos de câncer em Bicas cujos tipos não foram informados, de 2005 a 18 de março de 2009, data final da coleta de dados, foi de 14 casos. Apesar do grande índice de confiança que os Agentes de Saúde já conquistaram junto aos cidadãos que acompanham, sabemos das dificuldades enfrentadas pelos mesmos. Normalmente, os pacientes e suas famílias não gostam de comentar sobre o fato. Só aqueles agentes que atuam em suas áreas há mais tempo conquistam a confiança das famílias, que vêem neles um ponto de apoio e respeito.
Quero ressaltar mais uma vez que o sucesso deste levantamento se deve ao belíssimo trabalho dos Agentes de Saúde, Enfermeiras, Técnicas de Enfermagem e de todo o corpo de profissionais dos PSF’s. Sem o arquivo de dados e a organização do trabalho destes profissionais, seria praticamente impossível obter o sucesso na realização deste trabalho.
Segundo o INCA, a vigilância é um dos componentes fundamentais para o planejamento e monitoramento da efetividade de programas de controle de câncer bem como a avaliação de seu desempenho. Um sistema de vigilância estruturado fornece informações sobre a magnitude e o impacto do câncer, como também sobre o efeito das medidas de prevenção, detecção precoce, tratamento e cuidados paliativos. Os registros de câncer de base populacional e hospitalar são partes deste sistema de vigilância. Os números deste levantamento demonstram a necessidade de investimentos por parte do Município em um sistema municipal de vigilância do câncer e no desenvolvimento de ações abrangentes para o controle da doença, nos diferentes níveis de atuação, como: na promoção da saúde, na detecção precoce, na assistência aos pacientes, na vigilância, na formação de recursos humanos, na comunicação e mobilização social. É necessário todo o empenho na promoção de ações integradas do governo municipal com a sociedade para implementar uma nova política que reconheça o câncer como problema de saúde pública e estruture a realização de ações para o seu controle em Bicas, criando, se possível, uma Rede de Atenção Oncológica na Secretaria Municipal de Saúde, em consonância e participação direta e indireta do Governo Federal e da Secretaria Estadual de Saúde, das universidades, dos serviços de saúde, dos centros de pesquisa, das organizações não governamentais e da sociedade de forma geral. Dentre os componentes fundamentais, destacam-se a Promoção e Vigilância em Saúde, onde o sistema de informação configura-se como alicerce para a implementação das ações municipais em consonância com as ações estaduais e nacionais.
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A iniciativa de se fazer este levantamento e a divulgação dessas informações buscam compartilhar e democratizar a reflexão a respeito do controle do câncer em Bicas, evidenciando o compromisso com a luta pela excelência nos serviços prestados à população.
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Por fim, acredito que este trabalho possa promover uma verdadeira “sacudida” em nossa sociedade, nos poderes constituídos e principalmente em nosso Sistema Municipal de Saúde. Os números mostram que se faz necessária mais atenção ao problema. Precisamos com urgência desenvolver ações preventivas em todos os âmbitos. Precisamos investir em campanhas esclarecedoras e mais incisivas. Todo investimento feito em "ações preventivas" será sempre menor que as altíssimas despesas oriundas do tratamento do câncer. Precisamos nos aprofundar nesta questão. O lema é: CÂNCER. “MÃOS A OBRA. ESTAMOS CORRENDO CONTRA O TEMPO”. Em breve, publicarei resultados de uma pesquisa em quatro frentes, quatro itens que apresentam possibilidades ou indícios (mesmo que muito pequenos) de poderem estar contribuindo para os números do câncer em Bicas. Não que apenas estes possam sê-lo. São eles: - A água que consumimos, seja das inúmeras minas espalhadas por nossa cidade ou da COPASA (já foi solicitada uma análise bacteriológica, físico-química e de presença de metais pesados); - A antiga indústria de caulim, que existiu no final da Rua Governador Valadares - Reta; - As torres de telefonia celular; - A capina química, permitida por Lei Municipal e adotada em nossa cidade.
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Participe deste debate, dê sua opinião, deixe seu comentário.
Até a semana da saúde, de 11 a 15 de maio!
Em breve, publicarei a programação do evento.
Conto com sua presença!
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